Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre. Ou, tão-somente, Fernando Nobre.
Eis o nome público de um homem cuja biografia recente se eleva como fogo-fátuo sobre a viciação da natureza humana.
Eis um profissional reconhecido, um académico apreciado, uma pessoa admirada, a imagem de homem generoso que, em paragens distantes, abraçava infortúnios e terrores.
Eis tudo isso e muito mais desperdiçado, pervertido. O passado é passado e este presente não terá futuro.
Tragicamente, do alto de uma vida tão vivida, Fernando Nobre não viu, não quis ver, que caminhava, pelo seu pé, para um fim sem remédio, sem cura médica.
Desbaratando um capital que era seu, quis ser mais, quis ser tudo, sem abdicar de nada, excepto de si próprio.
Com um despudor que não se lhe reconhecia, fez sua a Verdade. Fez dela o que quis e quanto quis. Guiado pela vaidade, o aplauso e os holofotes, torneou juras, compromissos e esperanças, consumiu-se na raiva de quem o tomou por outro e, pior, pelo ridículo.
Recordar os últimos meses de Fernando Nobre é assim um acto doloroso. Uma dor que se sente na pele, como o ardor de uma inocência que insiste em confundir esperança e desejo com verdade pura e crua.
Afinal, aquele Fernando Nobre não existia. Perdeu-se na memória de tantos gestos despojados e admiráveis e ali ficou.
Restará agora a sua sombra, prostrada ao dízimo e ao esquecimento.
Pinela
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